11 de setembro de 2001: o dia em que o portal iG tentou emplacar o ‘Dia da Boa Notícia’
No dia 11 de setembro de 2001, o portal iG decidiu emplacar uma ação chamada “Dia da Boa Notícia”, uma ideia de Nizan Guanaes, então presidente da empresa. A proposta era que a capa destacasse apenas noticiário otimista, e a data foi anunciada aos leitores na véspera.
Na madrugada, foi assassinado o prefeito de Campinas, Toninho do PT. O iG não deu destaque, apenas deixou no feed de notícias recentes. Às 9h45, quando um avião atingiu uma torre do World Trade Center, a home do iG também não deu. Às 10h03, quando um novo avião atingiu a outra torre, seguiu ignorando. Somente por volta do meio-dia é que o “Dia da Boa Notícia” foi revogado.
Ano passado, na semana do 11 de Setembro, tentei fazer uma matéria sobre isso, com vários relatos, na VICE, mas não consegui publicar. No entanto, cheguei a pegar este depoimento do Leão Serva, que foi diretor do iG:
“Sim, nós vivemos a situação bizarra de uma coincidência improvável: tínhamos [Nizan Guanaes] elegido aquele dia como 'Dia da Boa Notícia'. Uma ação para melhorar a percepção do jornalismo (sempre muito atacado como portador de más notícias). Eu em princípio era contra mas aceitei desde que me dessem três semanas para a equipe preparar matérias especiais sobre boas notícias e desde que mantivéssemos o acesso ao site completo (havia um clique na home 'se você quer ler também as más notícias, clique aqui'; e via o site completo).
Anunciamos com antecedência que aquele seria o 'Dia da Boa Notícia'.
E aí, 23:45 do dia 10/9 entrou a notícia da morte do prefeito de Campinas (PT). Decidi que seria a única má notícia, ficaria na home o dia todo com uma vinheta 'Má Notícia'.
E aí, acho que o Bin Laden soube de nossa iniciativa e para provar que 'boa notícia não é notícia', decidiu causar aquele furdúncio…
De manhã, eu estava no trânsito chegando à redação quando a editora da home [Carina Martins] me ligou para falar que um avião havia batido no World Trade Center; fiquei irritado e desconcertado, mas imaginei um teco-teco e disse para publicar no site de más notícias (sem chamada na home)… Em seguida, ela me disse: outro avião bateu, é terrorismo. Vou dar de manchete e ao chegar ao iG vc me demite…
Até hoje é uma das minhas heroínas daquela jornada.
Cheguei uns minutos depois e fiz um editorial dizendo algo na linha 'tentamos mas a história nos atropelou'.
E acabou o 'Dia da Boa Notícia'. Creio que ensinamos às próximas gerações de jornalistas a não mexerem com esse mandamento.
Anualmente, meus colegas de Último Segundo e eu brincamos de celebrar o 'Dia da Boa Notícia' no 11/9 (só em brincadeiras de rede social).”
